Plataformas na internet promovem diversidade?
Estatisticamente, ninguém escuta mais música ou um número maior de artistas na era do Spotify. Na verdade, o que ocorre é justamente o oposto. De acordo com entrevista do vice-presidente de estratégias digitais da Universal Music Group, Michael Nash, a tendência é de uma concentração ainda maior em poucas músicas de poucos artistas.
Segundo entrevista do executivo à Metal Intection, somente 1 a cada 10 no Spotify possui mais de 400 ouvintes mensais.
“As plataformas [de streaming, como o Spotify] neste momento estão inundadas por uma onda gigantesca de conteúdo, uma vez que milhões de criadores estão tendo acesso. Mas essencialmente, essas pessoas são ‘subidores de conteúdo’; eles não são artistas no sentido tradicional em que pensamos nos artistas”, disse.
“Cerca de 80% dessa gama multimilionária de criadores tem uma audiência mensal de menos de 50 ouvintes. E, na verdade, 90% desses criadores têm menos de 400 ouvintes mensais. São 400 ouvintes mensais dentro de uma audiência de [mais de] 400 milhões [por mês, no Spotify]. Então, só para trazer dados nisso: isso significa que 90% dessas pessoas que sobem conteúdo estão engajando menos que 1 milionésimo da plataforma. São pessoas que fazem por hobby, tocando essencialmente para uma casa de shows vazia“, concluiu.
100 mil faixas postadas por dia no Spotify
Nash disse que, hoje, cerca de 100 mil faixas são postadas por dia no Spotify. Porém, a imensa maioria delas não será ouvida por um número significativo de pessoas. A promessa de que a era dos streamings seria a era da diversidade de opções e conteúdos se torna, assim…. promessa.
Mas qual o motivo disso?
Existe uma questão própria dessa indústria musical na era da internet. Quanto mais faixas postadas no Spotify, mais custos à empresa para mantê-las lá por tempo indeterminado. Para a empresa, é mais lucrativo cobrar de subidores(as) de conteúdo e “bombar” artistas de uma elite.
Por gerem maiores receitas, os(as) mesmos(as) artistas contam sempre com a inserção em playlists e publicidade, por exemplo. O Spotify e outras plataformas promovem essa concentração de plays nos mesmos nomes e faixas, por ser mais lucrativo.
Isso coincide também com interesses do setor, para os quais vale muito mais (em termos de dinheiro) um hit global que muitos(a) artistas conseguindo se manter nesse mercado.
1% de artistas concentram 90% dos plays nas plataformas digitais
Um estudo da empresa estadunidense Alpha Data mostra que as pessoas escutam um número cada vez menor que artistas. De acordo com os dados, 90% do total de streams ficam com apenas 1% do total de artistas, denominada como “elite”.
Os outros artistas, menores, ficam com os outros 10%. Cabe ressaltar que estamos falando de literalmente milhões de artistas.
Os dados saíram do mapeamentos dos lançamentos entre janeiro de 2019 a julho de 2020. Os dados não mudaram tanto de lá pra cá. No período analisado, foram 1,6 milhões de artistas que tiveram novas músicas, que foram ouvidas em um total de 293,8 bilhões de vezes.
Desigualdade entre artistas na era dos streamings
Se há um número baixo de artistas que concentra quase a totalidade do mercado, também são poucos(as) que ganham dinheiro com a plataforma. O Spotify paga entre U$0,003 à U$0,008 dólares por reprodução. Isso varia de acordo com o tipo de conta do produtor ou produtora de conteúdo.
O Spotify grátis remunera artistas e podcasts com um valor menor que o Spotify premium. Para artistas, o Spotify paga US$ 0,00397 por play. Assim sendo, a cada 1.000 reproduções, o valor repassado para a gravadora é de aproximadamente US$ 3,97. Cabe ressaltar que esse valor é descontado pela gravadora, que repassa para o(a) artista depois.
Uma conta simples basta para entender que seria preciso muitos milhões de plays por mês para se obter quantias significativas.
Estudo desse ano postado no blog Groover, no início de 2022, existem apenas 7.800 artistas gerando mais de US$ 100 mil/ano no Spotify, ou cerca de 0,1% de todos os artistas na plataforma.